O horizonte comunista contra o fim da história 2.0

Por Vitor Ferreira

Projeto Mímesis
5 min readJan 15, 2021

Com o acirramento da luta de classes no âmbito nacional e internacional as burguesias começaram seus processos selvagens de acumulação de capital, esses processos são fruto de mais uma crise capitalista que começou em 2008 e até os dias de hoje sofremos com ela, a maioria dos países ocidentais não consegue firmar estabilidade política e ou econômica, passou-se mais de uma década e a estabilidade não veio, para piorar a crise teve seu aprofundamento com a COVID-19 e a total ineficácia das burguesias junto aos seus estados capitalistas em lidar com a maior crise sanitária do século XXI. Logo o processo de arrecadação capitalista não poderia se não de outra maneira esbanjar sua total podridão, quando nesses 12 anos de profunda crise mundial e agora pandêmica, 1% dos 7 bilhões de seres humanos se tornam mais ricos do que jamais foram ou se pôde ser na história, isso em cima de sangue suor e lágrimas, em cima da fome mundial, do crescimento do desemprego mundial, em cima de milhares de mortos. A maior potência militar do mundo e segunda maior potência econômica (já ultrapassada pela China) os Estados Unidos da América foi o grande exemplo de como abandono de seu povo, de como deixar crianças e suas famílias a mercê do vírus, da fome, do desemprego, o grande exemplo da falência capitalista. A tão aclamada União Europeia demonstrou claramente que quando a coisa fica feia é cada um por si, mas todos tem que ser pelos ricos e não hesitou em abandonar a Itália a beira de um colapso sanitário, que contou com a solidariedade de China, Cuba e Vietnã para se recuperar. No Brasil nunca se existiu qualquer projeto de combate ao vírus, porque para o presidente do Brasil nunca existiu um vírus, para o presidente do Brasil só existe os interesses dos poderosos.

É importante destacar que essa diferente de tantas outras crises do capitalismo se trata de uma crise estrutural e não mais uma crise cíclica, onde é necessária a reorganização das relações capitalistas de produção para que se ocorram suas arrecadações, e para que isso ocorra é preciso manipular ou apagar toda perspectiva de luta das classes trabalhadoras pelo mundo. E Para tentar entender como se dá esse apagamento das perspectivas reais de luta dos trabalhadores, quero destacar aqui 4 pontos:

1 — O financiamento incessante das burguesias na chamada “onda conservadora” onde figuras como Trump e Bolsonaro realizam seu serviço sujo em conduzir a política da truculência nas ruas para combater de qualquer forma e a qualquer custo, qualquer possibilidade de reação dos oprimidos e explorados, além disso ser acompanhado da ascensão de movimentos neonazistas e neofascistas por todo globo ocidental;

2 — O aprofundamento do neoliberalismo, o processo em massa das privatizações, da retirada quase que total dos direitos básicos dos trabalhadores, a política de austeridade de cortar qualquer tipo de investimento público, exemplos representados pelas duas figuras citadas acima, mas também por Macri e Macron;

3 — O alinhamento entre as mídias hegemônicas, os judiciários, os algoritmos das redes sociais, tudo isso em posse ou financiado pelas classes dominantes para aplicar e legitimar golpes de estados e manipular a opinião pública;

4 — Aliado a todos esses processos o esvaziamento ou simplesmente a negação do debate público pela esquerda e os comunistas, a apresentação incansável das mídias em propagar os e as liberais como únicas alternativas a extrema direita, as cassações, perseguições e condenações parciais dos judiciários e órgãos internacionais (OEA por exemplo) sobre direitos políticos de figuras da esquerda juntamente nas decorrentes tentativas de criminalização dos comunistas, afim de apagar qualquer horizonte possível aos trabalhadores e trabalhadoras do mundo. Essa operação liberal burguesa em curso não descolada de nenhum dos pontos anteriores vem acompanhada de seus jargões: “nem direita e nem de esquerda”, “teoria das ferraduras”, a tal da “frente ampla”, que tem como seu objetivo colocar as figuras liberais como guia dos processos políticos, tentando tirar todo programa político das esquerdas e dos comunistas de cena, fazendo com que o único programa político a ser discutido seja aquele que possa ser governado pelas burguesias. Estes processos interruptos e inseparáveis ainda podem ter outras ramificações além de não haver nenhuma contradição em conjunto a eles existirem tentativas clássicas de golpes militares e de milícias apoiados pelas classes dominantes, mas sem dúvida na atual conjuntura é possível notar essa tentativa “sútil” de acabar com as esquerdas e os comunistas como alternativa de projeto político via esvaziamento e impedimento do debate e suas criminalizações;

Sintetizando tudo isso é possível encontrar aqui uma tentativa clara de resgatar e reafirmar a teoria/falácia de Fukuyama do “Fim da história”, que nada mais foi do que uma maneira de dar legitimidade ao discurso neoliberal de Margaret Thatcher de que “não há alternativa”, aos trabalhadores que aceitem ficar de joelhos. Um conjunto de subjetividades repetidas, reproduzidas e implantadas de todas as maneiras possíveis no seio dos oprimidos, até que se tornassem um conjunto de objetividades na realidade de todos os explorados. A polarização da política nos EUA onde se coloca Biden como única chance de derrotar Trump e no Brasil a incansável tentativa da grande mídia e dos aparatos burgueses em apresentar e reforçar figuras como Luciano Hulk, Sérgio Moro, Dória, Tabata Amaral entre alguns outros carrascos do povo brasileiro travestidos de telletubies são exemplos concretos da estratégia dominante de tampar toda e qualquer visão dos trabalhadores e trabalhadoras de seu lado esquerdo, ou que são tenha mais um lado esquerdo.

“Viver sem conhecer o passado é como andar no escuro”, o fim da história e o não há alternativa nos trouxeram até aqui, e agora essa tentativa de uma espécie de 2.0 do fim da história tenta ser reafirmada, essa fantasia liberal e neoliberal nos obrigou a construir muros em nossa volta enquanto nos colocavam de joelhos, pintaram esses muros e nos disseram que era para nos proteger, torcendo e operando para que ali ficássemos. O liberalismo burguês e sua tentativa de nos dominar retira o milho antes de querer nos colocar ajoelhados, tem o cabo de seu chicote revestido de plumas mas a ponta do chicote permanece feita de anzóis.

Por último e muito importante, é preciso dizer aos trabalhadores e trabalhadoras do mundo que tudo isso está também diretamente ligado ao fato de que ”um espectro ronda” as multidões que ouvem seu sussurro, e a burguesia treme, pois sabe que logo esse sussurro ecoará em uma só voz e que essa voz clamará rumo ao horizonte comunista, que pelo mundo milhões de homens e mulheres já estão enxergando através das lentes vermelhas que revelam toda essa estratégia histórica de dominação de classes e com isso os trabalhadores como em toda sua história sempre ousam se levantar, se organizar e já começam a se colocar uns sobre os ombros dos outros para enxergar além dos muros, com as lentes vermelhas e ver que existe sim um outro horizonte possível, existe uma real possibilidade de um outro mundo e esse novo mundo pode, deve e será construído pelas próprias mãos dos trabalhadores e povos explorados do mundo, unidos!

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